João Almeida e Rúben Guerreiro voltam do Giro com muitas histórias para contar



João Almeida e Rúben Guerreiro voltam do Giro com muitas histórias para contar

Os portugueses João Almeida e Rúben Guerreiro voltaram hoje a Portugal, depois de três semanas a brilhar no Giro de Itália, onde o primeiro foi o quarto da geral, após ter comandado a prova durante 15 dias, e o segundo foi coroado rei dos trepadores e conquistou uma etapa. À espera de ambos, no aeroporto General Humberto Delgado, Lisboa, tinham três dezenas de jornalista, ávidos de ouvir, da boca dos protagonistas, o balanço da gesta em terras italianas.

Mais extrovertido, Rúben Guerreiro assumiu o comando, no que respeita a contar pormenores mais privados da convivência no pelotão. “Tinha os objetivos da equipa, mas a corrida, para mim, por vezes acabava mais cedo. Nessas alturas pensava 'vamos lá vestir a camisola de Portugal'. Se pudesse, os meus diretores não levavam a mal, e tentava dar um incentivo ao João, porque ele estava na grande batalha da geral. Em tom de brincadeira, dizia-lhe, à partida, quando estávamos na posição de camisola azul e camisola rosa: 'amanhã aqui à mesma hora'”.

João Almeida sublinhou que a brincadeira prolongava-se para o pódio: “Antes do segundo dia de descanso, no domingo, o Rúben disse-me 'terça-feira à mesma hora'”. “Mas depois falhei eu, perdi a camisola na etapa seguinte. Mas quando a recuperei perguntei-te se já tinhas saudades”, interrompeu o ciclista da EF Education First, provocando a gargalhada na plateia de jornalistas.

Os incentivos para o estreante João Almeida chegaram também de adversários diretos, como revela o chefe-de-fila da Deceuninck-Quick-Step. “Conheço o Tao Geoghegan Hart há algum tempo, já desde o tempo da Axeon. Após o primeiro contrarrelógio, sabia que poderia chegar à camisola rosa no dia do Etna, e estava um pouco nervoso. Foi o Tao que me acalmou e disse para eu ter confiança. Depois de vestir a camisola ele felicitou-me. Estou muito feliz por ele ter vencido, foi o mais forte”, acrescenta João Almeida, que, hoje, no regresso a Lisboa, deu “boleia”, até Barcelona, ao vencedor do Giro e a Rohan Dennis, no voo fretado por João Correia, agente de João Almeida, Rúben Guerreiro e Tao Geoghegan Hart.

Nem só de episódios curiosos e divertidos viveu a conferência de imprensa do início desta tarde. O momento também foi aproveitado para responder às questões mais profundas colocadas pelos jornalistas, interessados em conhecer a visão pessoal de quem está na discussão de um dos grandes eventos desportivos internacionais. Uma das dúvidas respeitava à forma como se sentira João Almeida na etapa em que cedeu, definitivamente, a camisola rosa. “Sabia que seria complicado manter a camisola no Stelvio, uma das subidas mais duras do mundo. Gosto daquela subida, mesmo que tenha perdido a camisola. A partir daquele momento foi tentar continuar a descobrir-me e manter o foco psicologicamente, que foi o mais difícil”, confessou o ciclista.

Rúben Guerreiro revelou pormenores da discussão interna na equipa, a meio da prova. “O meu objetivo e o da equipa era lutar por uma etapa. Depois de ganhar a etapa, a camisola azul foi um bónus, mas foi uma luta muito difícil. A equipa equacionou se iríamos tentar mais etapas ou a camisola. Mas motivaram-me para a camisola. As últimas seis etapas foram uma guerra para mim. Tinha de ganhar ou tinha de ganhar. Com muito esforço e apoio dos meus companheiros lá conseguimos. Penso que é importante para a minha carreira, catapulta-me para outros objetivos. Foi a minha segunda grande volta, mas fico satisfeito com as sensações”, conclui Rúben Guerreiro.

Perante as perguntas dos jornalistas sobre o futuro, João Almeida preferiu não adiantar novas metas, referindo a necessidade de continuar a descobrir-se e traçando um retrato do pelotão internacional: “As corridas são muito duras. Estes resultados trazem-nos responsabilidade. Temos de continuar a trabalhar arduamente. O novo ciclismo é muito diferente, ninguém está para brincadeiras, todos querem ganhar”.

O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Delmino Pereira, teve a oportunidade de agradecer pessoalmente aos dois corredores, em Milão, pelo desempenho e pela importância que isso teve para o ciclismo nacional. Hoje viajou com ambos para Lisboa e abriu a conferência de imprensa para destacar o sucesso da nova geração de corredores.

“Os jovens ciclistas portugueses têm o perfil do emigrante moderno. São contratados pelas melhores estruturas do mundo para o desempenho das funções mais especializadas. O desempenho do João e do Rúben no Giro enche-nos de orgulho e é um exemplo para os mais jovens, que vêem neles um exemplo. Com certeza será um incentivo para que mais jovens se aproximem do ciclismo e queiram praticar a modalidade”, afirmou o dirigente.

Delmino Pereira entende que “fizemos história com a camisola azul, que fica no nosso coração, porque foi a primeira do ciclismo português. E por tantos dias de rosa, que representa o nosso sonho. Foram momentos que nos apaixonaram e que os portugueses viveram com grande intensidade”, disse o presidente da Federação, destacando outros importantes resultados recentes, como as medalhas no Campeonato da Europa de Pista para Sub-23 e Juniores, o segundo lugar de Tiago Ferreira no Campeonato do Mundo de Maratona BTT e o terceiro posto na etapa de ontem da Vuelta, averbado por Rui Costa.

 

2020-10-26 - 18:11:59

 


 

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